As Rochas - Capítulo I

Feldspato Abstracto olhou, do alto do seu metro e quarenta, o cocuruto da cabeça do seu irmão, Quartzo Minguante. Parecia-lhe que ele estava menos brilhante, talvez mesmo um pouco baço. E não era para menos, considerando tudo o que ele havia passado nas últimas horas. Só ainda não conseguia perceber qual a ligação à família dos Xistos. Seriam verdade os rumores que lhe tinham chegado de um romance entre o seu querido mano e a quente Lava Xisto, a menina bonita daquela poderosíssima família? Ele tinha que confrontar Quartzo com esse boato.

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Penso Logo e Xisto encarou a sua filha e não teve conteve as lágrimas.
- Filha, o teu pai está doente
- Oh não, papá. O que se passa?
- Estou com metamorfismo.
- Oh papá, Vá lá. Não chore. Sabe que isso lhe provoca erosão.
Na verdade, ele não chorava por ele, que tinha tido uma vida longa e feliz. Chorava por ela, a sua querida Lavinha que só agora começava a despontar para a vida, e que em breve ficaria só no mundo.
O mordomo entrou na sala e disse: - Sr. Dr. está aqui o Padre Basalto para o ver.
- Peça-lhe para esperar no escritório, Penedo. Eu vou já.
- Mas o que dizem os médicos? - continuou a filha.
- Bom, tenho tido grande actividade sísmica e dizem que em breve começarei com deriva dos continentes.
- Mas isso é horrível. E tem cura?
- Receio bem que não. Peço-te que nada comentes com ninguém. Se esta notícia chega aos ouvidos da Brita Cascalho, em breve todo o mundo saberá e temo pelas acções da nossa firma. E agora, se não te importas, vou receber o Padre Basalto. - Beijou-lhe a testa e saiu. Lava entrou em ebulição. Que notícia tão aterradora.
- Padre Basalto, como está o senhor? - inquiriu Penso ao entrar no escritório.
- Cá vamos andando, sr. Dr. Logo e Xisto. Desculpe a minha visita, mas estou com problemas na Missão Pedra e Cal e nunca fui bom a magmática. Por isso resolvi vir pedir-lhe ajuda.
- Pois com certeza, meu bom Padre. Com todo o prazer. Mas afinal, do que se trata?
- Bem, o melhor mesmo é contar-lhe a verdade. Sabe, eu pequei. É tenebroso ter que dizê-lo mas estou viciado em sedimentos.- Penso nem queria acreditar. O seu amigo e confessor agarrado! - Comecei por cheirar pó de talco, depois passei para evaporito e agora não consigo viver sem arenito. Que Deus me perdoe...

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- Então sempre é verdade, maninho. Com que então, tu e a Lava, hein? Quem diria. Meu mineralzinho.
- Não gozes, Feldspato. Nós estamos muito apaixonados um pelo outro. Até estamos com vontade de nos fundirmos. Só que o Pai dela nunca aprovaria a nossa relação, se descobrisse...
- Se descobrisse? Mas corre o boato em todas as pedreiras. Quem mo contou foi o Pedro Mármore.
- Detesto esse gajo. Ele e aquelas estúpidas da Estalagtite e da Estalagmite.
- Pois é. Juntas são dinamite. - Sempre que se lembrava das gémeas Calcário, Feldspato não conseguia deixar de se lembrar de uma noite louca que tivera com ambas. Nunca tinha tido a coragem de contar ao irmão, pois sabia a aversão que ele nutria por elas.

8 comentários:

Anónimo disse...

Que pedra!

Anónimo disse...

Bem, meu pedragulho, se não soubesse que as tuas origens são de pedra e cal dizia que tudo isto era mentira.
Estou ansiosa por ler o resto deste drama basáltico.

Seixos para ti

Anónimo disse...

uma autêntica pedrada no charco! Direi mesmo: é areia demais para a minha camioneta!

Anónimo disse...

Mas grande calhau filho de puta tu és pá...blogue muito mau para sequer ser classificado...

romudas disse...

Brilhante. Parabéns. Não me ocorre nada. Sou outro calhau. Mais mineralógico, mas outro calhau ainda assim.

Já agora, um penedo inteiro para a cabeça do anónimo, por favor.

Ego Mentis disse...

Obrigado a todos pelos vossos parabéns, especialmente ao Anónimo que me alertou para o facto de haver classificação de blogs... Que mais pérsia inventar...

Sara disse...

Quando eu estou esperando que eu gosto de ler essas histórias na célula Espero continuar encontrando essas coisas principalmente porque eu gosto de comer sozinho em restaurantes em jardins

InVersos disse...

Caro Ghozé Pablito,

Este seu texto foi lido no InVersos:

https://invers0s.wordpress.com/2015/10/02/inversos-ghoze-pablito-as-rochas-capitulo-i/

Espero que agrade!
Cumprimentos,
Rui Diniz,
InVersos